Wednesday, December 10, 2014

10 de Dezembro de 2014

Olá a todos que têm sobrevivido aos textos bíblicos diários. Bom, brincadeiras a parte, eu entendo que é um pouco complicado encontrar um tempo para ler textos tão grandes e difíceis, mas o importante é que eles estarão aí sempre disponíveis para visitas futuras. Enfim, hoje é o nosso décimo encontro e vamos nos deparar com uma carta que não necessariamente traz um arquétipo masculino ou feminino, mas traz um misto dos dois, porém não vamos somar esse misto em nossa contagem.
Estamos falando da carta “A Roda da Fortuna”, a décima Arcana Maior do Tarot que traz consigo vários enigmas e algo do oriente. Seria possível fazer uma leitura dessa carta utilizando a perspectiva budista, contudo há muito do mundo Judaico-Cristão nessa carta. Infelizmente meu conhecimento não vai muito longe em alguns detalhes e ficarei devendo qualquer explicação detalhada quanto ao alfabeto hebraico presente na roda alaranjada (bem como alguns símbolos alquímicos).
Preciso dizer que todas as cartas do Tarot se referem a uma letra do alfabeto hebraico e que eu deveria conhecer tal alfabeto, mas por enquanto eu também sou um aprendiz que apenas ensina o que entendeu. Portanto, peço encarecidamente desculpas por minha ignorância do judaismo e do alfabeto hebraico, especialmente por que entre os idealizadores do Tarot temos em grande presença o povo judeu e a sabedoria mítica que eles carregaram, miscigenada com os mitos egípcios.
Bom, creio que essa pequena explicação da origem do Tarot já dá uma pista de algumas figuras que temos na décima carta que encontramos hoje. A figura da Esfinge, a Cobra e Anubis (o deus dos mortos). Ainda mais, temos outras quatro figuras cardinais, uma em cada canto da carta. Essas figuras simbolizam os sígnos fixos ou constelações fixas do zodíaco e fazem parte do que há de mais fino no pensamento Cristão.
Para dar uma breve introdução às quatro figuras cardinais, precisamos entender um pouco da ideia de Aristóteles quanto à constituição da matéria (embora eu, sinceramente, sou mais Demócrito que Aristóteles para essas coisas). Para Aristóteles a matéria era constituída de quatro elementos básicos a saber: água, fogo, terra e ar. Esses elementos eram vistos como o básico de tudo, uma combinação variada das características desses elementos levaria à formação de distintos materiais.
Ora, isso não era de toda mentira, havia sim um fundo de verdade que deveria ser mais explorado. Por sorte, a ideia de Demócrito vingou nos séculos vindouros e hoje temos o conhecimento do universo subatômico. Entretanto, qual era a verdade de Aristóteles? A verdade estava nas energias que esses elementos representam, nas qualidades do espírito e não da realidade material (que sabemos ser muito diferente).
Trocando em miúdos, os quatro elementos são nada mais que símbolos para exemplificar o universo mental. Essa era uma metáfora utilizada entre os alquímicos para explicações de ordem psíquica. Os mais envoltos com a alquímia e pseudo-ciências sabem que para os iniciados nas artes místicas a verdade era descrita assim: “...três são as unidades fundamentais e quatro são as forças que regem esse mundo...”; por alguma razão os alquímicos não foram mais além das três unidades fundamentais (sempre acreditei que por uma barreira tecnológica), mas foram acertivos quanto às forças.
Preciso deixar claro que os ditos alquímicos citam as coisas “desse mundo”, mas e quanto aos outros? Sim, falamos de outros mundos, mas estamos nos referindo a um outro tão próximo quanto real para cada um de nós. Exemplifiquemos, o mundo mental e o mundo emocional. Sabemos do poder criativo de nossas mentes e como podemos imaginar o universo da maneira que quisermos, bem como sabemos como temos um universo particular de sentimentos que, por vezes, parecem variar de pessoa para pessoa. Ora, era a esse universo imaterial que os iniciados de antigas tardições alquímicas mais se envolviam, escondendo o próprio trabalho em uma linguagem pictórica e textual praticamente impossíveis de serem entendidas por não iniciados.
Pois bem, agora que sabemos a razão desses quatro elementos poderemos conectá-los a algo que nos seja banal, sim, estamos falando das pseudo-ciências vulgares. Exatamente, o que há de mais vulgar na pseudo-ciência é a Astrologia (outra pseudo-ciência com um pé e meio na cova, visto que poucos a entendem de fato e fazem dela uma piada). Enfim, a Astrologia nos diz quanto aos sígnos cardinais ou fixos que são: Aquário, Escorpião, Leão e Touro. Muito claramente a reconstrução Cristã desse conhecimento transformou cada figura em algo mais aceitável, ficando Aquárius como Querubim, Escorpião como Águia, Touro como um Touro Alado e Leão como um Grifo ou apenas um Leão Alado (pode variar conforme a versão do Tarot).
Observem que as figuras zodiacais ganham, todas, asas e são demonstradas em quatro cantos distintos. Essa representação diz respeito ao tipo de universo que habitamos. Há contudo uma inspiração que diz serenamente para observarmos a estranha combinação de números que há para as criaturas aladas e para as criaturas que circundam a roda da fortuna. Percebamos que são 4 figuras aladas e 3 figuras ao redor da roda da fortuna, um indicativo de dimensões e realidades. Para o mundo material em nossa realidade de “vivos” estamos inseridos na tridimensionalidade, ao passo que para o mundo imaterial na realidade dos “mortos” insere-se em uma quarta dimensão.
Ora, essa ideia de signos fixos, elementos e dimensões foram gravadas justamente na imagem da roda da fortuna por uma questão clássica da lei máxima ao qual o espírito que habita o planeta Terra está submetido. Tratamos aqui da lei da reencarnação. Observemos que no alto da roda da fortuna há uma esfinge azulada a segurar uma espada, a esfinge impõe a questão da vida e o significado do existir, o grande enigma que se não respondido nos deixará presos à roda e ao ciclo de sofrimentos cármicos que o nascimento nos submete (olhe a cobra, um símbolo do sufocamento do espírito como explicado em nosso sexto encontro), passando então pela morte ou pelo reino dos mortos através de Anubis. Poderíamos dizer que a esfinge é um grande enigma, mas ao mesmo tempo ela é a nossa consciência, pois somente nós mesmos nos julgamos. A prisão de nós somos nós mesmos e encarar as verdades divinas é um fenômeno que ocorre solitariamente, respondemos ao grande juiz de nós mesmos, esse mesmo juíz que foi deixado dentro de nós pela carta “A Alta Sacerdotisa” (reparem que a esfinge é tão azulada quanto a própria Sacerdotisa).
Pois bem, em nosso ciclo de reencarnes vivemos todas as experiências necessárias para o nosso verdadeiro aprendizado e para nossa verdadeira cura, por isso mesmo os quatro sígnos fixos. Através da profundidade da água (sentimentos - escorpião), da mudança dos ventos (impermanência - aquário), da persistência da terra (perenidade - touro) e da fúria do fogo (ação - leão) o espírito estagia nas divinas faculdades que precisam ser equilibradas para a própria glória e iluminação. Ao mesmo tempo que o espírito pode atingir a própria perfeição e glória através de tal processo de vivências múltiplas, há também a possibilidade de atingir a própria desgraça. Daí a ideia da roda da fortuna.
Enfim meus caros, creio que já falei demais e devo me calar por enquanto. Um abraço aos corajosos de plantão.

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